30.1.06 

Qualquer coisa 11: world press photo

David Guttenfelder
USA, The Associated Press

29.1.06 

Qualquer coisa 10: world press photo

Jahi Chikwendiu
USA, The Washington Post

27.1.06 

Outro texto 19: exercício espiritual

É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora


- em manual de prestidigitação (1981); de Mário Cesariny de Vasconcelos

25.1.06 

o meu Tempo 18: Teatro das mãos ausentes

a sala estava vazia
cheia de escuridão
no começo da peça
de actores ausentes
só presentes em si
nunca no espaço

e então a luz
e descubro que não te consigo ver
o teu toque sinto-o perto
leve e solto
tanto como tu
água que não se pode moldar modelar

estendes-me a tua mão
que falho em agarrar
e ela cai comigo no chão

a tua outra mão
segura o tecto sobre mim
essa força que nos pesa

essa espécie de fertilidade impotente
existência aniquilante

23.1.06 

Outro texto 18: Além - Tédio

Nada me expira já, nada me vive -
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E sé me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...

- em Dispersão (1914); de Mário de Sá-Carneiro

21.1.06 

Outro texto 17: Amanhã aconteceu

Que é notícia?

Um hoje que nunca é hoje,
um amanhã que é já ontem
entre ontens que se perdem
no anteontem dos anos
no tresantontem dos lustros...

Que é notícia?

Amanhã acontecido,
notícia é sempre um depois,
é um a viver vivido...

Que é notícia?

Notícia é devoração!
Aí vai ela pela goela
que há-de engolir tudo e todos!
Aí vai ela, lá foi ela!
Nem trabalho de moela
retém notícia...
Notícia sem coração!

Que é notícia?

Cão perdeu-se! Por que não?
Cão achou-se! Ainda bem!
Ainda melhor, por sinal,
se o cão perdido e o achado
forem um só e o mesmo
«lidos» no mesmo jornal!

Que é notícia?

Damos notícia um ao outro
do nosso interesse comum.
Fui Cavalheiro amanhã.
Ontem Senhora serás.
Como eu não há nenhum!...

Que é notícia?

Quando o primeiro tortulho
se abre no céu (silhueta
que em símbolo se tornará)
onde estou, estouvava eu?
Estava com a tia Henriqueta...

Que é notícia?

Fechada para balanço,
tia Queta dormitava.
Com a folhinha nos joelhos,
do tortulho, que treslera,
já em feto se engelhava...

Que é notícia?

Das convulsões deste mundo
dava meu pai a versão:
- Ailitla por toda a Europa...
O guarda-roupa, meu filho,
varia, a tragédia não...

Que é notícia?

O bom do velhote ia
na terceira dentição...

Que é notícia?

Alcatruz que se abalança
a tornar à sua água?
Já o de Éfeso sabia:
não se molha duas vezes
o lenço na mesma mágoa...

Que é notícia?

Notícia em primeira mão
na minha mão infantil:
o papagaio empinado
no claro céu da manhã,
meu jornal publicado
por cima de tanto afã...

Mas terá sido notícia?

Que é notícia?


- em De Ombro na Ombreira (1969), de Alexandre O'Neill

18.1.06 

o meu Tempo 17: Hipnótica

parei aqui.
já sou areia da tua praia
onde se erguem as palmeiras
que do mar bebem vida
do outro lado os olhos dos
Outros estão bem despertos
e fico paralisado.

15.1.06 

Qualquer coisa 9: guernica



- de Pablo Picasso (1937).

Óleo sobre tela.
Executado para o pavilhão da República Espanhola, na Exposição Internacional de Paris, O painel tem as dimensões de 350 x 782 cm. encontra-se actualmente exposto no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.

13.1.06 

Outro texto 16: Viagem quase alegre

O cão viaja no minúsculo espaço dado pela
coleira fixa a um poste.
Não é muito, mas também não é pouco.
(O animal) não está morto.


- em máquina do mundo - revista de poesia (ed. 1; 2005),
de Gonçalo M. Tavares

12.1.06 

Outro texto 15: estes dias

queimam-me
os dias
dos outros.
rego-me, reinvento o
mundo.
falho.
na minha janela
de ferrugem tórrida
os passarinhos
ainda
fazem amor.


- em máquina do mundo - revista de poesia (ed. 5; 2005), de Ondjaki

10.1.06 

Outro texto 14: Uma pausa, não de plumas, mas elástica

1

Uma pausa, não de plumas, mas elástica,
que demorasse em si a paz ardente
e o ardor profundo de uma alta instância.
Que fosse o esquecimento na folhagem
e a espessa transparência da matéria.
O pulso pronunciaria a amplitude
do instante inocente. A obra acender-se-ia
na inteligência dos signos mais aéreos.

2

A inadvertência pode ser um prelúdio carnal
na volúvel leitura de quem adormeceu.
O sono dá ao sangue o ócio e as cores do enxofre.
Por uma forma ausente a matéria ramifica-se
na insolência branda de umas ruínas perfeitas.
Um aroma rebenta da axila negra de um animal de vidro.
Como um veleiro de fogo uma cabeleira ondula.
A garganta do mar atira os seus pássaros de espuma.
Uma rapariga de pedra caminha entre os arbustos de fogo.
É a abundâcia da origem e o seu orvalho azul.
São as armas vegetais sobre as janelas da terra.
É a frescura do vidro nas cintilantes sílabas.

3

Na justa monotonia do meio-dia
oiço o prodígio do repouso e a paixão adormecida.
O concêntrico sopro imobiliza-se. É uma lâmpada
de pedra fulgurante. Tudo é nítido mas ausente.
O mundo todo cabe no olvido e o olvido é transparência
de um denso torso que a nostalgia acende.
No silêncio sinto numa só cadência
a vociferação e o tumulto das pálpebras e dos astros.
Pelas veias o fogo da cal é branco e liso
e a mais remota substância culmina num rumor redondo.


- em A Rosa Esquerda (1991), de António Ramos Rosa

8.1.06 

Qualquer coisa 8: pela Língua Portuguesa

PETIÇÃO PARA TORNAR OFICIAL O IDIOMA PORTUGUÊS NAS NAÇÕES UNIDAS

6.1.06 

o meu Tempo 16: 13 versos

ao pisar esses
vidros
pés despidos
não sinto dor nem ilusão
sinto a minha
carne
aos poucos em pedaços
amputada de sonhos
desprovida de origem
que se perde e
escorre

só mais um passo

4.1.06 

Outro texto 13: Os caídos

Tu és aquele que recolhe o fruto a voz que de dentro da palavra deflagra como o vincular de um querer – dizer Anjo caído anjo planta sílaba espacial onde todo o teu tempo virá um dia a acontecer.

estende-me pois o braço e apaga as tatuantes luzes do mundo.

Dorme.

Título: M. Tiago Paixão
Poema: hugo milhanas machado

2.1.06 

o meu Tempo 15: baú de casas vazias

a minha vista para o parque confunde-se
com o teu céu quando olhas o chão
na minha casa
no meu corpo
sangue
no meu corpo e no teu
sangue
que é meu

a minha vista perde-se
encontra-se
ganha-se
a ti em ti em mim
(baú semi-cerrado como os teus olhos que olham o meu chão)


Título: hugo milhanas machado
Poema: M. Tiago Paixão

1.1.06 

Qualquer coisa 7: "Get Up Stand Up"



Get Up, Stand Up, stand up for your right
Get Up, Stand Up, don't give up the fight

Preacher man don't tell me heaven is under the earth
I know you don't know what life is really worth
Is not all that glitters in gold and
Half the story has never been told
So now you see the light, aay
Stand up for your right. Come on

Get Up, Stand Up, stand up for your right
Get Up, Stand Up, don't give up the fight

Most people think great God will come from the sky
Take away ev'rything, and make ev'rybody feel high
But if you know what life is worth
You would look for yours on earth
And now you see the light
You stand up for your right, yeah!

Get Up, Stand Up, stand up for your right
Get Up, Stand Up, don't give up the fight
Get Up, Stand Up.
Life is your right
So we can't give up the fight
Stand up for your right, Lord, Lord
Get Up, Stand Up.
Keep on struggling on
Don't give up the fight

We're sick and tired of your ism and skism game
Die and go to heaven in Jesus' name, Lord
We know when we understand
Almighty God is a living man
You can fool some people sometimes
But you can't fool all the people all the time
So now we see the light
We gonna stand up for our right

So you'd better get up, stand up, stand up for your right
Get Up, Stand Up, don't give up the fight
Get Up, Stand Up, stand up for your right
Get Up, Stand Up, don't give up the fight.

Bob Marley - em www.scivideo.blogspot.com

("Get Up, Stand Up" is a reggae song written by Bob Marley and Peter Tosh. The song originally appeared on The Wailers 1973 album Burnin'. It was recorded and played live in numerous versions by The Wailers and Bob Marley & The Wailers, along with solo versions by Peter Tosh and Bunny Wailer. It was later included on the compilations Legend and Rebel Music, among others.
The song was very often performed at Marley's concerts, often as the last song. "Get Up, Stand Up" was also the last song Marley ever performed on stage, on September 23, 1980 at the Stanley Theatre in Pittsburgh, Pennsylvania.


This is the cutting call-to-arms that kicked off the Burnin' album. Seldom has the Rasta ethos been spelled out with greater sagacity, yet the theme transcends all religious and political boundaries.
The song is the official anthem of Amnesty International.)

M. Tiago Paixão


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